Por Carlos Sherman
Voto, Centrão e Interdição
O voto impresso realmente torna a eleição mais confiável? E a resposta à essa questão é um acachapante NÃO! E claro que não… Aliás, foi assim que o Brasil deixou o voto de cabresto no passado, e outras mazelas do voto impresso. O assunto aqui é outro. Bolsonaro busca apenas ganhar no grito, como Trump, caso seja derrotado – é será – dentro das regras do jogo.
Bolsonaro tenta sabotar alguns dos orgulhos nacionais, a votação eletrônica e a vacinação. Sim, o Brasil foi o primeiro país a realizar eleições 100% eletrônica, e há 25 anos esse dever cívico é cumprido sem nenhuma ocorrência de fraude. Também somos exemplo para o mundo em matéria de vacinação, com a erradicação de diversas enfermidades. Essa história remonta ao ano de 1804, quando o Marquês de Barbacena desembarca no Brasil trazendo a vacina contra a varíola – o horror de sua época. Segue-se o inestimável legado de Oswaldo Cruz.
Mas o caminho seria tortuoso, no Brasil e no mundo, em função da ignorância, e principalmente de cunho religiosa. No dia 5 de novembro de 1904 foi criada uma Liga Contra a Vacinação Obrigatória – pasmem vocês. Nos dias 10 a 16 de novembro do mesmo ano, o Rio de Janeiro seria o palco de conflitos entre manifestantes e a polícia, com o apoio do exército. Foram quase 1.000 prisões, 110 feridos e 30 mortos – conforme os dados do Centro Cultural do Ministério da Saúde. E cumpriríamos o nosso dever constitucional, afinal a nossa Carta Magna de 1988, em seu artigo 196, diz claramente que a saúde é um direito de todos e dever do Estado; mas diz mais, quando trata do princípio da dignidade da pessoa humana e das garantias das necessidades vitais de cada indivíduo. Esse um dos fundamentos basilares da República e do Estado Democrático de Direito, nos termos do artigo 1º, III da Constituição Federal. E em matéria de vacinação, não estamos tratando apenas de nossos interesses, mas do bem de todos, já que a erradicação ou controle de doenças depende da participação de todos.
E voltamos ao voto impresso, e à participação de todos, já que votar é um direito, mas também um dever – segundo a mesma Constituição. E voltamos ao imbróglio criado por Bolsonaro, alegando falsamente que a urna eletrônica foi fraudada em eleições anteriores, e alegando ainda que a solução está no voto impresso. Lembram da eleição acirrada entre Aécio e Dilma? O deputado tucano pediu a recontagem dos votos em 2014… mas seus propósitos estavam bem claros: “Vou entrar com um negócio aí para encher o saco deles”. Aécio só não contava em ser gravado pelo empresário Joesley Batista, na mesma conversa em que pedia uma graninha ao dono da JBS. Ele mesmo diz, para quem quiser ouvir, que Dilma ganhou aquela eleição. Se nem os tucanos reclamam disso, por que é que Bolsonaro faz tanto alarde? Simples, porque deseja semear o falso argumento de as eleições em 2022 serão roubadas…
Mas já que o assunto é roubo… Lembram do sambista General Heleno, e o seu épico “se gritar pega Centrão”? Pois bem, guarde bem a sua carteira. Mas Bolsonaro agora declara: “Eu sou o Centrão!”; e ainda: “o Centrão é a alma desde governo!”. Pois bem, desesperos golpistas à parte, gostaria de fazer um aparte: Não confundam Centrão com pertencer a algum tipo de centro ideológico, ou uma alternativa entre extremismos à direita e à esquerda. Não se trata de nada disso… Centrão é sim um termo pejorativo para uma corja de ladrões que infesta o Congresso Nacional Brasileiro. E ainda não temos melhor vacina contra esse mal senão o voto.
Pois bem, cidadão brasileiro: Vamos dizer não à ambos, o fascismo rachadinho do bolsonarismo e a cleptocracia lulista…. e sem desculpas. Não havendo outra opção, manifeste-se pela anulação do pleito, anulando o seu voto; sendo este um expediente constitucional e democrático. E enquanto o Centrão aquartela-se para impedir o impedimento deste facínora, alguns juristas pensam na interdição de Bolsonaro, comparado a Nero, pelo prestigioso The Economist.
Mas BolsoNero, apesar do claro desequilíbrio, demonstra esperteza enquanto brinca de forma incendiária com o destino do povo brasileiro. Sendo esta a sina dos psicopatas, o completo desprezo pelo sofrimento alheio. Mas se convertermos os crimes de todos os psicopatas em irrefreáveis arroubos de suas personalidades, não restará qualquer crime passível de qualificação por dolo… O indivíduo concorre para a morte de quase 600.000 brasileiros e termina em um manicômio de segurança máxima?
Eu voto NÃO… quero Bolsonaro na Papuda.
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