Por Carlos Sherman
Vivemos novos tempos, e a mulher definitivamente encontrou o seu espaço e independência… Mas não defendo causas feministas, e ao contrário, denuncio seus excessos. A verdade não é sexista… Nem racista… A verdade não é ideológica… nunca… E a igualdade de direitos da mulher, ou de qualquer ser humano, não significa que somos iguais… Mas a sociedade deve nos tratar à todos com os mesmos pesos e medidas… Mesmo que não existam dois iguais…
E retorno ao vídeo de Calabrez – um péssimo exemplo, no rol dos “psicologismos” para a antessala da manicure – para ilustrar os debates achológicos sem pé nem cabeça sobre amor e paixão – que o vídeo acusa de “demência”… E essa definitivamente não é uma resposta científica, e sim um apelo midiático. Existe um enorme exagero aí, com um viés muito negativo… Afinal, a paixão está mais para uma sensação inebriante, deliciosa, e até viciante…
Estudos mostram que, em casos muito raros, a paixão pode até durar por toda a vida… Muito embora – e normalmente – a paixão despenque em no máximo meses. E esse prazo costuma começar com a assinatura dos papéis estabelecendo as condições para o destrato, ou a certidão de casamento; sim, porque dita certidão estabelece apenas como serão as tratativas financeiras em caso de rompimento: se comunhão parcial, total, ou separação de bens, rsrsrsrs…
Bom, mas podemos sim continuar nos apaixonando pela mesma pessoa, e indefinidamente… E essa me parece ser a expressão máxima da experiência humana! E ela é raríssima…
Fisiologicamente, o dito circuito do amor começa em uma região muito antiga, a área tegmental ventral, que se conecta no sistema límbico à amídala… Esse é o circuito responsável pela liberação de cortisol, produzindo aquele friozinho gostoso na barriga, como em uma montanha-russa, rsrsrsrsrs… Mas o cortisol também regula o stress, o medo da perda, e induz o ciúme…
Outro circuito conecta a região tegmental ventral com núcleo accumbens, e liberando dopaminas… Isso, proporciona aquela maravilhosa sensação de recompensa, característica do amor romântico – quando correspondido… Assim, e involuntariamente, ativaremos mais um circuito do que o outro, produzindo mais cortisol do que dopamina, mais medo do que recompensa, e em diferentes gradações. Isso depende intrínseca e inescapavelmente de nossa natureza neuropsicológica, esculpida pela genética…
Finalmente, o córtex pré-frontal mediará tudo isso, com papel predominante da região ventral medial, responsável direta por nossa tendência à socialização… Assim, e em grande medida, essa relação entre nossas tendências emocionais, no gabarito das amídalas, e nossas tendências sociais, na região ventro-medial, definirá a nossa personalidade.
Existe ainda a questão da recaptação da serotonina, e sua eventual inibição – pelos antidepressivos… A serotonina é responsável pelo sensação de estar em paz, a sensação de estar cercada pelo que é “suficiente e necessário”, o nosso bem estar, em harmonia com nossas expectativas… E curiosamente a serotonina costuma diminuir a libido e exatamente porque já estamos bem; e.g., a serotonina liberada no ato sexual nos dá aquela sensação de saciedade…
E é aí que entra o importante papel do sexo, de “fazer amor”… Exatamente para lavar e enxaguar os nossos cérebros com serotonina, além de mais dopaminas, que nos brindam a sensação de recompensa… Isso, além da endorfina, que pode ser até 400 vezes mais poderosa que a morfina… Também entra na receita a oxitocina e vasopressina, culminando com o nosso potencial afetivo… Assim, o sexo cumpre uma função essencial na satisfação, no relacionamento, e na vida. sexo é saúde!!!
E a liberação sexual coincidiu com o processo pacificador que estamos vivendo.
Como o tempo, em uma boa relação – caso raro, já que não evoluímos para relações monogâmicas -, o estresse e o medo decaem, a confiança e a cumplicidade aumentam, enquanto o sexo ajuda muito nessa transição. Essa é a trama da vida e do amor… Pois, viva o circuito do amor!
Lembrando ainda que o amor romântico é recente; e começa a ser cantado em verso e prosa por trovadores venezianos, somente no século XII. E pensar que Platão desprezou a poesia em sua república vegetariana. Assim, o “Cavaleiro” medieval transcendeu à condição de “Cavalheiro” romântico… O culto às tradições de cavalaria é mantido, em parte, assim como o enaltecimento do heroísmo; mas dessa vez o objetivo é a adoração de uma só mulher… Isso subverte, em certa medida, os impulsos biológicos ditos masculinos em relação à quantidade de conquistas, em favor da qualidade da conquista, e o advento da fidelidade. Este é um importante passo cultural alicerçado em possibilidades humanas inatas, como o altruísmo.
Outro elemento presente neste passo histórico é o sofrimento. E mais tarde, no final do século XVI, Shakespeare materializaria este amor romântico em Romeu e Julieta. Um romance como apenas três dias de intercurso, que conta cinco mortos, rsrsrsrsrsrs… Representativo em mostrar como o amor romântico precisou lutar para vencer os casamentos arranjados, e que predominam até hoje na maior parte do mundo…
Frequentemente vejo pessoas afirmando que o romantismo acabou, e que antes era assim e assado… Mas isso não é verdade… O amor romântico nunca teve tanta oportunidade como hoje… Mas o suplício de nosso desesperado Romeu, que certamente estava transtornado por inclinações bem mais dramáticas do que o meu amigo do Sri Lanka, ficaria eternizado em nossa cultura como um exemplo de amor… Mas o amor dever ser bom, alegre, mutuamente buscado e mantido… O amor deve ser à uma vida melhor…
Mas o tempo do amor é hoje… E definitivamente, o amor está no ar!
E lembrando que o Taj Mahal – que tive oportunidade de visitar – é uma construção mongol e muçulmana do século XVII;
Trata-se de um mausoléu erigido por ordem de um rei para homenagear uma entre centenas de suas concubinas… O que não guarda assim tanto “romantismo”…
De Shakespeare a Vinícius de Moraes, tratamos de aplacar a violência que teimava em impedir que os amantes se unissem voluntariamente, rompendo com toda tradição patrimonial do casamento… E melhoramos muito… E esse é o caso aqui, e não o contrário… Só em nossos dias, e nunca antes na história, o amor romântico foi declamado de forma realmente livre…
Para essa tradição do amor romântico convergem cinco vetores contingentes muito fortes:
(1) A cadeia de eventos que remonta o direito de propriedade, herança, e finalmente família; já que o matrimônio reza sobre bens – e nada mais;
(2) O enaltecimento do prazer, com resultado o advento científico e bioquímico da pílula – assim como outros métodos contraceptivos; subvertendo o papel meramente procriativo em um tremendo parque de diversões;
(3) A independência e direitos da mulher;
(4) Questões de saúde pública;
(5) A certeza da vida finita – mesmo quando não é confessa…
Queremos ser felizes aqui e agora… E com muito prazer! Hedonistas, e com pouco tempo a perder! Hoje, gestamos no máximo dois, um, ou nenhum filho. Não estamos dispostos à promiscuidade e a independência da mulher, nos círculos mais esclarecidos, é um fato. A propriedade se tornou secundária, quando colocada em perspectiva de realização pessoal e humana. E o que decorre de tudo isso é um interessante rompimento com as tradições… Convertendo a monogamia “por toda a vida” em relações monogâmicas eternas enquanto durem… Várias relações monogâmicas ou de fidelidade, e, melhor dizendo, de lealdade – que abrange e amplia o conceito da fidelidade…
Finalmente, tudo isso versa sobre o “amor romântico”… Mas outras relações também podem funcionar, e o amor romântico definitivamente não é a regra, e nem vale para todos. Lembrando ainda que a maior parte dos matrimônios no mundo ainda são arranjados ou negociados… Como aqui, no mundo islâmico, onde o homem paga pela mulher, com o dote… Ou na Índia, onde o pai paga para que levem sua filha… Na África, e em outras realidades ainda mais sombrias, mundo a fora, onde a mulher é comparada com coisas e animais, como na Bíblia… Como em Platão e Aristóteles…
Parafraseando à Drummond, que parafraseou à Mário de Andrade… Amar, verbo intransitivo…
Portanto, e que pese a necessidade de uma boa definição semântica… Amar, ação, verbo, é algo bem diferente. Trata-se de uma capacidade neuroquímica ligada, entre outras coisas, ao conluio entre neuroreceptores e transmissores para a oxitocina e vasopressina. Estes hormônios estão em profusão no cérebro das mulheres durante a gestação e após o parto – mais em umas do que outras…
Amar é um conceito mais amplo, que desencadeia ações com fortes vieses altruístas, em contraponto ao egoísmo e individualismo. amar é quando vivemos pelo sorriso alheio.
Amar não cobra um payback, mas alimenta-se do feedback bioquímico, da sensação pessoal e intransferível de fazer o bem a outrem… Dividindo seus recursos, víveres, tudo… Ou até mesmo, em sua epítome, dedicando a própria vida.
Contrariando o senso comum, na verdade estamos amando mais… Muito mais! Estamos selecionando o amor!
Por isso, estamos melhorando, aumentando a solidariedade, morrendo 40 vezes menos ao nascer, diminuindo a violência em mais de 100 vezes, e triplicando a expectativa de vida, enquanto controlamos a taxa de natalidade…
Por outro lado, a liberdade de escolha para homens e mulheres, vive os seus dias de excesso… Escolhemos como se diante de uma vitrine interminável – no Pof, Tinder etc… Já não nos conformamos em questionar se a relação é boa ou não; mas passamos direto ao seguinte questionamento obsessivo: Não poderia ser ainda melhor?
Sem pretender nivelar a maravilhosa experiência de amar por baixo, advirto que isso pode, em certa medida, levar à vulgarização de nossa liberdade de escolha, e consequentemente à superficialidade nas relações… Afinal: nunca investimos tanto em amor, em amar… E nunca nos separamos tanto!
Podemos invocar o “eterno enquanto dure”, mas recomendo a cautela em julgar se uma relação pode ou não durar; o que dirá, “eternamente”!
De minha parte, confesso estar condenado à sensibilidade, de forma que foco sempre no amor romântico e eterno. Sempre pulo sem paraquedas, e até o fim! E mesmo quando finda a relação, a disposição de quem possui a capacidade de amar sempre será um ato de amor… Sendo essa, repito, uma resultante inequívoca de nossa natureza neurofisiológica!!!
Então, e para aqueles felizardos, capazes de amar… Apreciem o voo, e curtam a vertigem… Amando mais… Sempre mais!!!
Carlos Sherman
Vivemos novos tempos, e a mulher definitivamente encontrou o seu espaço e independência… Mas não defendo causas feministas, e ao contrário, denuncio seus excessos. A verdade não é sexista… Nem racista… A verdade não é ideológica… nunca… E a igualdade de direitos da mulher, ou de qualquer ser humano, não significa que somos iguais… Mas a sociedade deve nos tratar à todos com os mesmos pesos e medidas… Mesmo que não existam dois iguais…
E retorno ao vídeo de Calabrez – um péssimo exemplo, no rol dos “psicologismos” para a antessala da manicure – para ilustrar os debates achológicos sem pé nem cabeça sobre amor e paixão – que o vídeo acusa de “demência”… E essa definitivamente não é uma resposta científica, e sim um apelo midiático. Existe um enorme exagero aí, com um viés muito negativo… Afinal, a paixão está mais para uma sensação inebriante, deliciosa, e até viciante…
Estudos mostram que, em casos muito raros, a paixão pode até durar por toda a vida… Muito embora – e normalmente – a paixão despenque em no máximo meses. E esse prazo costuma começar com a assinatura dos papéis estabelecendo as condições para o destrato, ou a certidão de casamento; sim, porque dita certidão estabelece apenas como serão as tratativas financeiras em caso de rompimento: se comunhão parcial, total, ou separação de bens, rsrsrsrs…
Bom, mas podemos sim continuar nos apaixonando pela mesma pessoa, e indefinidamente… E essa me parece ser a expressão máxima da experiência humana! E ela é raríssima…
Fisiologicamente, o dito circuito do amor começa em uma região muito antiga, a área tegmental ventral, que se conecta no sistema límbico à amídala… Esse é o circuito responsável pela liberação de cortisol, produzindo aquele friozinho gostoso na barriga, como em uma montanha-russa, rsrsrsrsrs… Mas o cortisol também regula o stress, o medo da perda, e induz o ciúme…
Outro circuito conecta a região tegmental ventral com núcleo accumbens, e liberando dopaminas… Isso, proporciona aquela maravilhosa sensação de recompensa, característica do amor romântico – quando correspondido… Assim, e involuntariamente, ativaremos mais um circuito do que o outro, produzindo mais cortisol do que dopamina, mais medo do que recompensa, e em diferentes gradações. Isso depende intrínseca e inescapavelmente de nossa natureza neuropsicológica, esculpida pela genética…
Finalmente, o córtex pré-frontal mediará tudo isso, com papel predominante da região ventral medial, responsável direta por nossa tendência à socialização… Assim, e em grande medida, essa relação entre nossas tendências emocionais, no gabarito das amídalas, e nossas tendências sociais, na região ventro-medial, definirá a nossa personalidade.
Existe ainda a questão da recaptação da serotonina, e sua eventual inibição – pelos antidepressivos… A serotonina é responsável pelo sensação de estar em paz, a sensação de estar cercada pelo que é “suficiente e necessário”, o nosso bem estar, em harmonia com nossas expectativas… E curiosamente a serotonina costuma diminuir a libido e exatamente porque já estamos bem; e.g., a serotonina liberada no ato sexual nos dá aquela sensação de saciedade…
E é aí que entra o importante papel do sexo, de “fazer amor”… Exatamente para lavar e enxaguar os nossos cérebros com serotonina, além de mais dopaminas, que nos brindam a sensação de recompensa… Isso, além da endorfina, que pode ser até 400 vezes mais poderosa que a morfina… Também entra na receita a oxitocina e vasopressina, culminando com o nosso potencial afetivo… Assim, o sexo cumpre uma função essencial na satisfação, no relacionamento, e na vida. sexo é saúde!!!
E a liberação sexual coincidiu com o processo pacificador que estamos vivendo.
Como o tempo, em uma boa relação – caso raro, já que não evoluímos para relações monogâmicas -, o estresse e o medo decaem, a confiança e a cumplicidade aumentam, enquanto o sexo ajuda muito nessa transição. Essa é a trama da vida e do amor… Pois, viva o circuito do amor!
Lembrando ainda que o amor romântico é recente; e começa a ser cantado em verso e prosa por trovadores venezianos, somente no século XII. E pensar que Platão desprezou a poesia em sua república vegetariana. Assim, o “Cavaleiro” medieval transcendeu à condição de “Cavalheiro” romântico… O culto às tradições de cavalaria é mantido, em parte, assim como o enaltecimento do heroísmo; mas dessa vez o objetivo é a adoração de uma só mulher… Isso subverte, em certa medida, os impulsos biológicos ditos masculinos em relação à quantidade de conquistas, em favor da qualidade da conquista, e o advento da fidelidade. Este é um importante passo cultural alicerçado em possibilidades humanas inatas, como o altruísmo.
Outro elemento presente neste passo histórico é o sofrimento. E mais tarde, no final do século XVI, Shakespeare materializaria este amor romântico em Romeu e Julieta. Um romance como apenas três dias de intercurso, que conta cinco mortos, rsrsrsrsrsrs… Representativo em mostrar como o amor romântico precisou lutar para vencer os casamentos arranjados, e que predominam até hoje na maior parte do mundo…
Frequentemente vejo pessoas afirmando que o romantismo acabou, e que antes era assim e assado… Mas isso não é verdade… O amor romântico nunca teve tanta oportunidade como hoje… Mas o suplício de nosso desesperado Romeu, que certamente estava transtornado por inclinações bem mais dramáticas do que o meu amigo do Sri Lanka, ficaria eternizado em nossa cultura como um exemplo de amor… Mas o amor dever ser bom, alegre, mutuamente buscado e mantido… O amor deve ser à uma vida melhor…
Mas o tempo do amor é hoje… E definitivamente, o amor está no ar!
E lembrando que o Taj Mahal – que tive oportunidade de visitar – é uma construção mongol e muçulmana do século XVII;
Trata-se de um mausoléu erigido por ordem de um rei para homenagear uma entre centenas de suas concubinas… O que não guarda assim tanto “romantismo”…
De Shakespeare a Vinícius de Moraes, tratamos de aplacar a violência que teimava em impedir que os amantes se unissem voluntariamente, rompendo com toda tradição patrimonial do casamento… E melhoramos muito… E esse é o caso aqui, e não o contrário… Só em nossos dias, e nunca antes na história, o amor romântico foi declamado de forma realmente livre…
Para essa tradição do amor romântico convergem cinco vetores contingentes muito fortes:
(1) A cadeia de eventos que remonta o direito de propriedade, herança, e finalmente família; já que o matrimônio reza sobre bens – e nada mais;
(2) O enaltecimento do prazer, com resultado o advento científico e bioquímico da pílula – assim como outros métodos contraceptivos; subvertendo o papel meramente procriativo em um tremendo parque de diversões;
(3) A independência e direitos da mulher;
(4) Questões de saúde pública;
(5) A certeza da vida finita – mesmo quando não é confessa…
Queremos ser felizes aqui e agora… E com muito prazer! Hedonistas, e com pouco tempo a perder! Hoje, gestamos no máximo dois, um, ou nenhum filho. Não estamos dispostos à promiscuidade e a independência da mulher, nos círculos mais esclarecidos, é um fato. A propriedade se tornou secundária, quando colocada em perspectiva de realização pessoal e humana. E o que decorre de tudo isso é um interessante rompimento com as tradições… Convertendo a monogamia “por toda a vida” em relações monogâmicas eternas enquanto durem… Várias relações monogâmicas ou de fidelidade, e, melhor dizendo, de lealdade – que abrange e amplia o conceito da fidelidade…
Finalmente, tudo isso versa sobre o “amor romântico”… Mas outras relações também podem funcionar, e o amor romântico definitivamente não é a regra, e nem vale para todos. Lembrando ainda que a maior parte dos matrimônios no mundo ainda são arranjados ou negociados… Como aqui, no mundo islâmico, onde o homem paga pela mulher, com o dote… Ou na Índia, onde o pai paga para que levem sua filha… Na África, e em outras realidades ainda mais sombrias, mundo a fora, onde a mulher é comparada com coisas e animais, como na Bíblia… Como em Platão e Aristóteles…
Parafraseando à Drummond, que parafraseou à Mário de Andrade… Amar, verbo intransitivo…
Portanto, e que pese a necessidade de uma boa definição semântica… Amar, ação, verbo, é algo bem diferente. Trata-se de uma capacidade neuroquímica ligada, entre outras coisas, ao conluio entre neuroreceptores e transmissores para a oxitocina e vasopressina. Estes hormônios estão em profusão no cérebro das mulheres durante a gestação e após o parto – mais em umas do que outras…
Amar é um conceito mais amplo, que desencadeia ações com fortes vieses altruístas, em contraponto ao egoísmo e individualismo. amar é quando vivemos pelo sorriso alheio.
Amar não cobra um payback, mas alimenta-se do feedback bioquímico, da sensação pessoal e intransferível de fazer o bem a outrem… Dividindo seus recursos, víveres, tudo… Ou até mesmo, em sua epítome, dedicando a própria vida.
Contrariando o senso comum, na verdade estamos amando mais… Muito mais! Estamos selecionando o amor!
Por isso, estamos melhorando, aumentando a solidariedade, morrendo 40 vezes menos ao nascer, diminuindo a violência em mais de 100 vezes, e triplicando a expectativa de vida, enquanto controlamos a taxa de natalidade…
Por outro lado, a liberdade de escolha para homens e mulheres, vive os seus dias de excesso… Escolhemos como se diante de uma vitrine interminável – no Pof, Tinder etc… Já não nos conformamos em questionar se a relação é boa ou não; mas passamos direto ao seguinte questionamento obsessivo: Não poderia ser ainda melhor?
Sem pretender nivelar a maravilhosa experiência de amar por baixo, advirto que isso pode, em certa medida, levar à vulgarização de nossa liberdade de escolha, e consequentemente à superficialidade nas relações… Afinal: nunca investimos tanto em amor, em amar… E nunca nos separamos tanto!
Podemos invocar o “eterno enquanto dure”, mas recomendo a cautela em julgar se uma relação pode ou não durar; o que dirá, “eternamente”!
De minha parte, confesso estar condenado à sensibilidade, de forma que foco sempre no amor romântico e eterno. Sempre pulo sem paraquedas, e até o fim! E mesmo quando finda a relação, a disposição de quem possui a capacidade de amar sempre será um ato de amor… Sendo essa, repito, uma resultante inequívoca de nossa natureza neurofisiológica!!!
Então, e para aqueles felizardos, capazes de amar… Apreciem o voo, e curtam a vertigem… Amando mais… Sempre mais!!!
Carlos Sherman
Vivemos novos tempos, e a mulher definitivamente encontrou o seu espaço e independência… Mas não defendo causas feministas, e ao contrário, denuncio seus excessos. A verdade não é sexista… Nem racista… A verdade não é ideológica… nunca… E a igualdade de direitos da mulher, ou de qualquer ser humano, não significa que somos iguais… Mas a sociedade deve nos tratar à todos com os mesmos pesos e medidas… Mesmo que não existam dois iguais…
E retorno ao vídeo de Calabrez – um péssimo exemplo, no rol dos “psicologismos” para a antessala da manicure – para ilustrar os debates achológicos sem pé nem cabeça sobre amor e paixão – que o vídeo acusa de “demência”… E essa definitivamente não é uma resposta científica, e sim um apelo midiático. Existe um enorme exagero aí, com um viés muito negativo… Afinal, a paixão está mais para uma sensação inebriante, deliciosa, e até viciante…
Estudos mostram que, em casos muito raros, a paixão pode até durar por toda a vida… Muito embora – e normalmente – a paixão despenque em no máximo meses. E esse prazo costuma começar com a assinatura dos papéis estabelecendo as condições para o destrato, ou a certidão de casamento; sim, porque dita certidão estabelece apenas como serão as tratativas financeiras em caso de rompimento: se comunhão parcial, total, ou separação de bens, rsrsrsrs…
Bom, mas podemos sim continuar nos apaixonando pela mesma pessoa, e indefinidamente… E essa me parece ser a expressão máxima da experiência humana! E ela é raríssima…
Fisiologicamente, o dito circuito do amor começa em uma região muito antiga, a área tegmental ventral, que se conecta no sistema límbico à amídala… Esse é o circuito responsável pela liberação de cortisol, produzindo aquele friozinho gostoso na barriga, como em uma montanha-russa, rsrsrsrsrs… Mas o cortisol também regula o stress, o medo da perda, e induz o ciúme…
Outro circuito conecta a região tegmental ventral com núcleo accumbens, e liberando dopaminas… Isso, proporciona aquela maravilhosa sensação de recompensa, característica do amor romântico – quando correspondido… Assim, e involuntariamente, ativaremos mais um circuito do que o outro, produzindo mais cortisol do que dopamina, mais medo do que recompensa, e em diferentes gradações. Isso depende intrínseca e inescapavelmente de nossa natureza neuropsicológica, esculpida pela genética…
Finalmente, o córtex pré-frontal mediará tudo isso, com papel predominante da região ventral medial, responsável direta por nossa tendência à socialização… Assim, e em grande medida, essa relação entre nossas tendências emocionais, no gabarito das amídalas, e nossas tendências sociais, na região ventro-medial, definirá a nossa personalidade.
Existe ainda a questão da recaptação da serotonina, e sua eventual inibição – pelos antidepressivos… A serotonina é responsável pelo sensação de estar em paz, a sensação de estar cercada pelo que é “suficiente e necessário”, o nosso bem estar, em harmonia com nossas expectativas… E curiosamente a serotonina costuma diminuir a libido e exatamente porque já estamos bem; e.g., a serotonina liberada no ato sexual nos dá aquela sensação de saciedade…
E é aí que entra o importante papel do sexo, de “fazer amor”… Exatamente para lavar e enxaguar os nossos cérebros com serotonina, além de mais dopaminas, que nos brindam a sensação de recompensa… Isso, além da endorfina, que pode ser até 400 vezes mais poderosa que a morfina… Também entra na receita a oxitocina e vasopressina, culminando com o nosso potencial afetivo… Assim, o sexo cumpre uma função essencial na satisfação, no relacionamento, e na vida. sexo é saúde!!!
E a liberação sexual coincidiu com o processo pacificador que estamos vivendo.
Como o tempo, em uma boa relação – caso raro, já que não evoluímos para relações monogâmicas -, o estresse e o medo decaem, a confiança e a cumplicidade aumentam, enquanto o sexo ajuda muito nessa transição. Essa é a trama da vida e do amor… Pois, viva o circuito do amor!
Lembrando ainda que o amor romântico é recente; e começa a ser cantado em verso e prosa por trovadores venezianos, somente no século XII. E pensar que Platão desprezou a poesia em sua república vegetariana. Assim, o “Cavaleiro” medieval transcendeu à condição de “Cavalheiro” romântico… O culto às tradições de cavalaria é mantido, em parte, assim como o enaltecimento do heroísmo; mas dessa vez o objetivo é a adoração de uma só mulher… Isso subverte, em certa medida, os impulsos biológicos ditos masculinos em relação à quantidade de conquistas, em favor da qualidade da conquista, e o advento da fidelidade. Este é um importante passo cultural alicerçado em possibilidades humanas inatas, como o altruísmo.
Outro elemento presente neste passo histórico é o sofrimento. E mais tarde, no final do século XVI, Shakespeare materializaria este amor romântico em Romeu e Julieta. Um romance como apenas três dias de intercurso, que conta cinco mortos, rsrsrsrsrsrs… Representativo em mostrar como o amor romântico precisou lutar para vencer os casamentos arranjados, e que predominam até hoje na maior parte do mundo…
Frequentemente vejo pessoas afirmando que o romantismo acabou, e que antes era assim e assado… Mas isso não é verdade… O amor romântico nunca teve tanta oportunidade como hoje… Mas o suplício de nosso desesperado Romeu, que certamente estava transtornado por inclinações bem mais dramáticas do que o meu amigo do Sri Lanka, ficaria eternizado em nossa cultura como um exemplo de amor… Mas o amor dever ser bom, alegre, mutuamente buscado e mantido… O amor deve ser à uma vida melhor…
Mas o tempo do amor é hoje… E definitivamente, o amor está no ar!
E lembrando que o Taj Mahal – que tive oportunidade de visitar – é uma construção mongol e muçulmana do século XVII;
Trata-se de um mausoléu erigido por ordem de um rei para homenagear uma entre centenas de suas concubinas… O que não guarda assim tanto “romantismo”…
De Shakespeare a Vinícius de Moraes, tratamos de aplacar a violência que teimava em impedir que os amantes se unissem voluntariamente, rompendo com toda tradição patrimonial do casamento… E melhoramos muito… E esse é o caso aqui, e não o contrário… Só em nossos dias, e nunca antes na história, o amor romântico foi declamado de forma realmente livre…
Para essa tradição do amor romântico convergem cinco vetores contingentes muito fortes:
(1) A cadeia de eventos que remonta o direito de propriedade, herança, e finalmente família; já que o matrimônio reza sobre bens – e nada mais;
(2) O enaltecimento do prazer, com resultado o advento científico e bioquímico da pílula – assim como outros métodos contraceptivos; subvertendo o papel meramente procriativo em um tremendo parque de diversões;
(3) A independência e direitos da mulher;
(4) Questões de saúde pública;
(5) A certeza da vida finita – mesmo quando não é confessa…
Queremos ser felizes aqui e agora… E com muito prazer! Hedonistas, e com pouco tempo a perder! Hoje, gestamos no máximo dois, um, ou nenhum filho. Não estamos dispostos à promiscuidade e a independência da mulher, nos círculos mais esclarecidos, é um fato. A propriedade se tornou secundária, quando colocada em perspectiva de realização pessoal e humana. E o que decorre de tudo isso é um interessante rompimento com as tradições… Convertendo a monogamia “por toda a vida” em relações monogâmicas eternas enquanto durem… Várias relações monogâmicas ou de fidelidade, e, melhor dizendo, de lealdade – que abrange e amplia o conceito da fidelidade…
Finalmente, tudo isso versa sobre o “amor romântico”… Mas outras relações também podem funcionar, e o amor romântico definitivamente não é a regra, e nem vale para todos. Lembrando ainda que a maior parte dos matrimônios no mundo ainda são arranjados ou negociados… Como aqui, no mundo islâmico, onde o homem paga pela mulher, com o dote… Ou na Índia, onde o pai paga para que levem sua filha… Na África, e em outras realidades ainda mais sombrias, mundo a fora, onde a mulher é comparada com coisas e animais, como na Bíblia… Como em Platão e Aristóteles…
Parafraseando à Drummond, que parafraseou à Mário de Andrade… Amar, verbo intransitivo…
Portanto, e que pese a necessidade de uma boa definição semântica… Amar, ação, verbo, é algo bem diferente. Trata-se de uma capacidade neuroquímica ligada, entre outras coisas, ao conluio entre neuroreceptores e transmissores para a oxitocina e vasopressina. Estes hormônios estão em profusão no cérebro das mulheres durante a gestação e após o parto – mais em umas do que outras…
Amar é um conceito mais amplo, que desencadeia ações com fortes vieses altruístas, em contraponto ao egoísmo e individualismo. amar é quando vivemos pelo sorriso alheio.
Amar não cobra um payback, mas alimenta-se do feedback bioquímico, da sensação pessoal e intransferível de fazer o bem a outrem… Dividindo seus recursos, víveres, tudo… Ou até mesmo, em sua epítome, dedicando a própria vida.
Contrariando o senso comum, na verdade estamos amando mais… Muito mais! Estamos selecionando o amor!
Por isso, estamos melhorando, aumentando a solidariedade, morrendo 40 vezes menos ao nascer, diminuindo a violência em mais de 100 vezes, e triplicando a expectativa de vida, enquanto controlamos a taxa de natalidade…
Por outro lado, a liberdade de escolha para homens e mulheres, vive os seus dias de excesso… Escolhemos como se diante de uma vitrine interminável – no Pof, Tinder etc… Já não nos conformamos em questionar se a relação é boa ou não; mas passamos direto ao seguinte questionamento obsessivo: Não poderia ser ainda melhor?
Sem pretender nivelar a maravilhosa experiência de amar por baixo, advirto que isso pode, em certa medida, levar à vulgarização de nossa liberdade de escolha, e consequentemente à superficialidade nas relações… Afinal: nunca investimos tanto em amor, em amar… E nunca nos separamos tanto!
Podemos invocar o “eterno enquanto dure”, mas recomendo a cautela em julgar se uma relação pode ou não durar; o que dirá, “eternamente”!
De minha parte, confesso estar condenado à sensibilidade, de forma que foco sempre no amor romântico e eterno. Sempre pulo sem paraquedas, e até o fim! E mesmo quando finda a relação, a disposição de quem possui a capacidade de amar sempre será um ato de amor… Sendo essa, repito, uma resultante inequívoca de nossa natureza neurofisiológica!!!
Então, e para aqueles felizardos, capazes de amar… Apreciem o voo, e curtam a vertigem… Amando mais… Sempre mais!!!
Carlos Sherman
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