Por Carlos Sherman
O Natal é um bom momento para profundas reflexões…
Nicola de Patara
Santa Claus, Father Christmas, Sinterklaas, Papai Noel, Papá Noel, Baboo Natale, Pere Noel… Muitos são os nomes recebe este personagem bonachão, terno, e protetor, que percorre o planeta distribuindo presentes para as criancinhas, na Noite de Natal…
Mas o único e verdadeiro Papai Noel de carne e osso de que se tem notícia viveu no século IV da era cristã e nasceu em Patara, Vale de Lycia, Asia Menor – hoje Turquia… Chamava-se Nicola (270 – 343) e foi uma das figuras mais veneradas por diferentes agremiações cristãs durante toda Idade Média, tanto no Oriente quanto no Ocidente… Um pop-star eclesiástico!!!
Católicos, Anglicanos, Batistas, Ortodoxos, Luteranos, Metodistas, Reformados etc… cultuam até hoje essa unanimidade entre as divindades… Sua figura cresceu a tal ponto que ele foi convertido em santo e patrono emérito de países como a Grécia, Rússia, Noruega, entre outras tantas cidades mundo afora… Ele também é o santo padroeiro das crianças, coroinhas, estudantes, arqueiros, marinheiros, pescadores, comerciantes e mercadores, radialistas, farmacêuticos… dos ladrões arrependidos, guardas noturnos, tanoeiros e cervejeiros… e também dos agiotas – em geral…
A Lenda do Bispo de Myra
Nicola nasceu em uma família abastada de comerciantes cristãos; mas, quando os seus pais morreram durante a avassaladora pandemia da Peste Negra, comovido com a tragédia, distribuiu sua herança ao povo assustado que havia sobrevivido à catástrofe – responsável por vitimar mais de um terço de toda a população da Eurásia… Nicola seguiu então para Myra, na Turquia, à procura de seu tio, o bispo do povoado…
Aqui deixamos a História para vagar pelo imaginário popular das lendas; e segundo as quais, em função da coincidente morte de seu tio, os sacerdotes da região, não encontrando um acordo sobre quem seria o seu sucessor, decidiram eleger o primeiro cristão que pusesse os pés na igreja… E assim, Nicola se converteria no Bispo de Myra…
Nicola de Bari
De volta à história, sabemos que por toda a Europa ergueram-se templos em seu louvor… Sob as ordens de Teodósio II, a Igreja de São Nicolau seria construída no mesmo local onde Nicola havia servido como bispo, em Myra; e os seus restos mortais foram então transferidos para um sarcófago na edificação… Em 1087, no entanto, quando o Império Bizantino perdeu temporariamente o controle da região para os turcos seljúcidas, um grupo de comerciantes da cidade italiana de Bari surrupiou os principais ossos do esqueleto de Nicola de seu sarcófago original, e trazendo-os à Bari, onde permanecem até hoje, sepultados na consagrada Basílica di San Nicola.
Durante a Primeira Cruzada, os fragmentos ósseos remanescentes no sarcófago em Myra foram mais uma vez saqueados, e desta vez por marinheiros venezianos, e levados naturalmente para Veneza… “Dizem” que as suas relíquias em Bari exsudam uma substância aquosa miraculosa conhecida como “maná” ou “mirra”, que os fieis acreditam possuir poderes sobrenaturais…
Experimentos científicos refutam terminantemente essa hipótese, mas confirmam por datação radiográfica que a ossada pertence ao período em que Nicola viveu; mas a análise carece da importante confrontação do DNA desta amostra com os restos guardados em Veneza… Se os fragmentos realmente pertencem a Nicola, então ele sofria de artrite crônica grave em sua coluna e pelve… e as orações não deveriam ajudar muito com as dores…
Bari está na região vinícola de Puglia, e adoro o Primitivo desta região… Talvez isso explique porque Nicola é padroeiro dos tanoeiros, ou carpinteiros de tonéis de vinho…
O Taumaturgo
Muitos feitos miraculosos são atribuídos a Nicola, com destaque para sua intervenção auspiciosa “impedindo que três jovens se tornassem prostitutas ou escravas”… Um pai desprovido de dinheiro para pagar pelo dote de casamento de suas três filhas, não via outra saída senão atirá-las à vida… Nicola teria então elaborado um alegórico plano, atirado uma bolsa cheia de moedas de ouro pela chaminé da casa do pai – e, por pouco, o proxeneta das próprias crias… Assim, o pai aliviado pôde pagar pelo dote de sua filha mais velha… Nicola então repetiu o gesto duas vezes mais, e assegurando assim um futuro diferente para as três ninfetas: agora seriam escravas privadas de um só homem, e que haviam inclusive recebido dinheiro por isso – ou invés de pagar por elas…
Ironias à parte, comenta-se também que, e ainda corre à boca miúda, em outra oportunidade, durante a grande fome na Europa, Nicola desvelou-se mais uma vez como super-herói; ao impedir que um terrível açougueiro, que já havia matado três crianças para vendê-las como suculentos BigMacs medievais, concretizasse seu plano gastro-infanticida… Isso, quando já estavam na macabra cozinha, corpos maturados e prontos para virar carne-moída… Nicola interveio e simplesmente ressuscitou as crianças… Uau!!!
No Bíblia Sagrada, por outro lado, e mais precisamente em Reis II, 2:23-24, o próprio “Deus” – valendo-se do avatar de “duas ursas” – assassina e despedaça os corpos de “42 meninos”, apenas por chamarem o profeta Eliseu de – pasmem vocês – “calvo”… Daria para abrir um fast food canibal…
“Então subiu dali a Betel; e, subindo ele pelo caminho, uns meninos saíram da cidade, e zombavam dele, e diziam-lhe: Sobe, calvo; sobe, calvo! E, virando-se ele para trás, os viu, e os amaldiçoou no nome do Senhor; então duas ursas saíram do bosque, e despedaçaram quarenta e dois daqueles meninos.” – Deus (Bíblia Sagrada; Reis II 2:24)Mas, voltemos às criancinhas vivas…
A Coca-Cola…
A tradição de São Nicolau levando presentes na noite de natal se expandiu por toda a Europa durante o século XII, misturando-se a outras celebrações, e desvelando um sincretismo claro com outros ritos nórdicos e germânicos… Quinhentos anos mais tarde, os holandeses levariam esta tradição aos Estados Unidos… Na Espanha, por outro lado, são os Reis Magos os encarregados de trazer os presentes na Noite de Natal; e este costume também se difundiu por toda a América Latina…
Papai Noel distribuía os seus presentes à cavalo, até o famoso escritor de contos Clement Moore imaginar São Nicolau em um trenó puxado por oito renas… Mas ele só seria desenhado pela primeira vez em 1931, para uma campanha natalina da Coca-Cola… Foi aí que Papai Noel ganhou roupa vermelha e branca, uma longa e generosa barba, além de sua pança avantajada; recebeu também saudáveis bochechas rosadas, o sorriso eterno, e o olhar de suma bondade… sendo essa a imagem que Papai Noel tem hoje em todo o mundo…
Por que 24 de Dezembro?
É muito difícil precisar quando começou a celebração do Natal no formato a que estamos acostumados em nossos dias… Numerosas estórias, lendas, e mitos, foram sendo somados ao longo dos séculos – provenientes de diferentes países e culturas…
O que todos sabemos é que a cada 24 de Dezembro esperamos a chegada da meia noite para comemorar o nascimento de “Jesus Cristo”, que teria sido anunciado e depois refutado por profecias judaicas; sendo venerado assim mesmo por cristãos dos quatro cantos do mundo como filho direto de seu “Deus”…
Mas a data na realidade foi arbitrada por decreto papal, e mais especificamente pela autoridade exercida por Júlio I, em 350 dos tempos cristãos… O decreto estabeleceu ainda, e com muito mais relevância histórica, que o “nascimento do Salvador Jesus Cristo” deveria substituir a veneração e adoração ao agora superado “Deus Sol”… O nascimento de Cristo passou então a ser comemorado no Solstício do Inverno em substituição às festividades do ‘”Dia do Nascimento do Sol Inconquistável” – e assim foi, e assim é…
O Nascimento do Pequeno Mitra e do Sol Inconquistável
Numerosas divindades – anteriores ao mito de Cristo – também teriam “nascido” no mesmo marco histórico e geofísico, como: Hórus, Mitra, Attis, Khrishna, Dionysio, entre tantas outras; terminando por influenciar o arbítrio papal desta data como sendo também o marco para o nascimento da nova divindade de uma nova religião: o Jesus Cristão, o “Salvador”…
No entanto, a sincrética celebração do Natal Cristão, na passagem de 24 para 25 de Dezembro, surgiria em paralelo (e.g.) com as respectivas solenidades em atenção ao “Deus Mitra”, cujo nascimento também era comemorado no Solstício de Inverno do Hemisfério Norte – e de Verão no Hemisfério Sul… Por outro lado, como no Calendário Romano o solstício acontecia erroneamente no dia 25, em vez de 21 ou 22, o erro foi propagado também ao nascimento de Cristo… Então, os romanos comemoravam na madrugada de 24 de Dezembro o “Nascimento do Invicto”, como alusão do alvorecer de um novo Sol, assim como o nascimento do “Menino Mitra”… e às festividades se adjuntou mais um nascimento: o “Menino Jesus”…
Et nos servasti… sanguine fuso…
Et nos servasti… sanguine fuso… Ou “e você nos salvou… no sangue derramado”… Escrito nas paredes do templo de Santa Prisca, erigido a Mitra, Roma, 200 AEC… Foram encontradas também figuras do “Pequeno Mitra” em Treveris, e a semelhança com as representações cristãs do “Menino Jesus” são incontestáveis… Existem representações de Mitra muito bem preservadas, especialmente em Roma, como nos templos San Clemente e Santa Prisca, agora sepultados sob edificações e igrejas cristãs mais recentes… Trata-se da prova cabal e inquestionável da conversão de templos e santuários do paganismo cívico em igrejas… como no notório caso do Panteão… No entanto, no caso dos Mitras romanos, sempre existiu o cuidado de esconder as imagens sob escombros, antes da construção de uma igreja exatamente no mesmo local…
Por outro lado, há pelo menos um exemplo conhecido de um relevo Mitraico entalhado, e esquecido, dentro de uma igreja cristã, em uma torre anexa à igreja de São Pedro em Gowts, Lincoln, Inglaterra, datando do início do século XI… Permaneceu aí, protegida, aparentemente em função da crença equivocada de que tratava-se de uma antiga representação do apóstolo Pedro…
De Fide Catolica
Mas a liberdade de culto ao cristianismo, estendido à todo o Império Romano, só seria seria oficializada em 313 com o Edito de Milão, expedido por Constantino… Rapidamente, os cristãos tomaram os postos dos sacerdotes pagãos na sociedade, inclusive mantendo as festas, rituais, vestimentas e indumentárias pagãs… Em Roma o Papa Cristão passou a ser o Sumo Pontífice, substituindo de maneira pomposa o anterior chefe religioso pagão… Constantino também passaria a estar ligado a ele, e esse legado traria mais tarde a unificação das religiões no império – até porque o culto a Mitra trazia semelhanças com o cristianismo…
Mas tal oficialização só viria em 27 de fevereiro de 380, com o Édito de Tessalônica, também conhecido como Cunctos Populos ou De Fide Catolica… O responsável por este feito, elevando o cristianismo niceno à condição de único culto permitido dentro das fronteiras do estado romano, seria o imperador Teodósio I… Assim, todas as demais práticas e rituais pagãos e politeístas seriam terminantemente abolidas e proibidas…
Vaticanum
O nome “Vaticano”, por sua vez, é anterior ao Cristianismo, e vem do latim Mons Vaticanus, ou seja, o Monte Vaticano… A raiz da palavra “Vaticano” é derivada do latim “vates”, que significa “vidente, adivinho”; que por sua vez é uma palavra emprestada do etrusco… Os Etruscos habitaram a Península Itálica antes dos Romanos, e na verdade deram origem ao povo Romano… A Colina do Vaticano foi a casa dos vates – ou videntes – muito antes da Roma pré-cristã… Vaticanus, também conhecido como Vagitanus, era um deus etrusco que “abria a boca do recém nascido para que ele pudesse dar o primeiro grito, o primeiro choro”, e seu templo foi construído em antigo local: Vaticanum… Era também o nome de uma das sete colinas de Roma. e onde se erguia o Circo de Nero… Lá, segundo a mitologia cristã, São Pedro teria sido martirizado, crucificado de cabeça para baixo, e depois sepultado – apenas por proclamar a sua devoção a Jesus Cristo…
O território correspondente ao Estado Vaticano só seria doado pela Itália à Santa Sé em 1929, com o Tratado de Latrão, assinado entre o Papa Pio XI e Benito Mussolini; isso, além do perdão de dívidas da igreja, o pagamento de uma soma elevadíssima em dinheiro, e uma mesada vitalícia do governo italiano – que já foi revogada. Este Tratado garantiria o apoio incondicional da igreja ao fascismo de Mussolini e ao nazismo de Hitler – seu confesso aliado.
Em 274 EC, o Imperador Aureliano proclamou a passagem do dia 24 para o dia 25 de Dezembro como “Dies Natalis Invicti Solis” (O Dia do Nascimento do Sol Inconquistável)… O Sol passaria então a ser venerado como uma divindade anímica… Buscávamos o calor do Sol, que pairava no espaço, e muito acima do frio invernal terreno… O início do inverno passou a ser festejado então como o dia do Deus Sol… Ou seja, o dia 25 de Dezembro, o dia do Deus-Sol foi de fato proclamado após o nascimento de Jesus… Outros “deuses” também tiveram seu aniversário arbitrado no solstício de inverno, como Hórus, Mitra, Attis, Khrishna, Dionysio, Cristo, e tantos outros… Cristo também teria o seu nascimento vinculado ao astronômico evento…
A palavra DOMINGO, por sua vez, é originária do latim dies Dominicus, que significa “dia do Senhor”… As demais línguas vernáculas românicas e provenientes do Latim seguem a mesma etnologia, com Domingo em espanhol, Domenica em italiano, e Dimanche em francês… Já os povos de origem anglo-saxônica mantiveram fidelidade à origem etnológica da palavra, em reverencia ao astro Sol, e a sua correta denominação como Dia do Sol – Sunday em inglês e Sonntag em alemão…
Teodósio I – O Imperador Carola
“Que no venerável dia do sol os magistrados e as pessoas residentes nas cidades descansem, e que todas as oficinas, estejam fechadas, No campo ainda assim que as pessoas ocupadas na agricultura possam livremente continuar seus afazeres pois pode acontecer que qualquer outro dia não seja apto para a plantação de vinhas ou de sementes…” – Cânone 29 – Concílio de Laodiceia.
No entanto, o culto ao Sol Invicto ainda permaneceria vivo em Roma, assim como o uso da denominação dies Solis, até a promulgação do famigerado Édito de Tessalônica, de 27 de fevereiro de 380; quando Teodósio I finalmente estabelece que a única religião de Estado seria o cristianismo de Niceia, e banindo qualquer outro culto… Assim, em 3 de novembro de 383, o dies Solis passou oficialmente a ser chamado de dies Dominica – ou Dia do Senhor… In Nomine Caesar…
Sincretismo Deísta e Político
Por ser Roma uma cidade cosmopolita e sede de um vasto império, para lá afluíram povos de diversas culturas, com inúmeras crenças, as quais eram recebidas e reconhecidas pelos romanos; e que ter-se-iam associado às crenças dos latinos, sabinos, e etruscos, na reverência ao primeiro dia da semana…
Notem que a conceituação de “Deus”, da divindade cristã-católica, pega carona na divindade pagã do Sol Inconquistável, sincretizando o Deus-Sol, para depois sublevar-se no Deus-só – monoteísta e monótono… E isso não ocorreu somente por causa da facilidade com que esta alegoria se aplicava a Deus; mas, e sobretudo, porque os cristãos receberam esta herança de cultos anteriores, e ainda vigentes em seu entorno à época; e mantiveram a tradição por interesses políticos, e na tentativa de solidificar um estado forte… Como todos os sincretismos ditos religiosos, esse também era de fato um sincretismo político…
O Tempo
Como podemos notar, a data de nascimento de Jesus é uma data meramente comemorativa, que foi oficializada quase 400 anos depois de seu suposto nascimento… Isso ocorreu porque a Bíblia não nos dá a informação exata sobre a data do nascimento do “Salvador” – e, na verdade, a exatidão não é o forte da Bíblia; mas também porque não existe qualquer menção histórica ao nascimento, vida e morte de “Cristo”…
Vale lembrar ainda que nos tempos bíblicos não existia um sistema de calendário fixo para os diversos reinos ou povos; cada região possuía um calendário, e esses calendários eram confusos e dispares… Muitas vezes, na sucessão monárquica, e por ordem do novo rei, o calendário de um povo era completamente modificado, respeitando manias, gostos e caprichos do soberano…
Um exemplo da dificuldade em estabelecer marcos temporais é a própria Bíblia, onde não encontramos (e.g.) menções a aniversários – e os Testemunhas de Jeová que o digam -, ou menções claras à datas sobre celebrações e eventos históricos… Devido à tantas mudanças e imprecisões, as pessoas simplesmente não sabiam ao certo em que data haviam nascido – e não porque fosse algum pecado celebrar um mísero aniversário…
Mas o Jesus cristão certamente gostava de celebrações, e estimulava o consumo de álcool, como claramente descrito na famosa passagem das “Bodas de Canaã”… Qual o vinho teria sido servido por Jesus? Safra? Variedade? Teria servido um Primitivo de Puglia, para homenagear in antecessum ao obcecado Nicola?
Inter Gravissimus
O calendário que adotamos hoje é uma forma recente de contar o tempo; e foi o Papa Gregório XIII quem decretou sua vigência através da Bula Papal Inter Gravissimus, assinada em 24 de fevereiro de 1582… A proposta foi formulada por Aloysius Lilius, um físico napolitano, e aprovada no Concílio de Trento (1545/1563)… Na ocasião, foi corrigido um erro na contagem do tempo, desaparecendo 11 dias do calendário anterior… A decisão fez com que o dia 4 de Outubro de 1582 fosse sucedido imediatamente pelo dia 15 – do mesmo mês… Os últimos a adotarem o calendário que usamos hodiernamente foram os russos, em 1918…
Esta cena foi recriada muitas vezes, mas foi montada e encenada pela primeira vez em 1223 por São Francisco, em Assis – hoje Itália; e a recriação ocorreu em um verdadeiro estábulo com a participação de camponeses e animais da região…
Francisco, também proveniente de uma família abastada, não apresentava qualquer inclinação religiosa até ser acometido de uma severa enfermidade que por pouco não pôs fim à sua vida… Pelos sintomas descritos, presume-se que Francisco foi vitima de uma Meningite… e cujas sequelas foram uma obsessão religiosa sem descanso, completo desapego por quaisquer objetos ou pertences, como roupas, dinheiro, e propriedades… completa desconexão social, sem qualquer interesse por trabalho ou alguma atividade produtiva, além do desprezo por relações humanas convencionais, familiares ou afetivas… Francisco passou a falar sozinho e a conversar com animais – quer existissem ou não…
Desde então, o nascimento de Cristo foi reproduzido das mais diversas formas possíveis, não somente com personagens, mas também com imagens e figuras em todo tipo de material, expandindo o costume de montar o Presépio para a celebração do Natal, principalmente em países com forte de tradição cristã Católica… E este costume chegou até a América pelas mãos dos portugueses e espanhóis, nos tempos da grande cruzada de evangelização… E, apesar de mais tarde terem sido agregados os símbolos de Papai Noel e da Árvore de Natal, o Presépio e a celebração do nascimento de Jesus ainda permanecem como figuras centrais natalinas em muitas casas por todo o mundo…
A Árvore de Natal
Todo dia 8 de dezembro, milhares de famílias brasileiras se dedicam a montar a Árvore de Natal… Este costume, que leva pouco mais de 200 anos em nosso país, na realidade vem de muito longe…
Civilizações antigas que habitaram os continentes europeu e asiático, no terceiro milênio antes de Cristo, já consideravam as árvores como um símbolo divino… Eles cultivam-nas e realizavam festivais em seu louvor… Essas crenças ligavam as árvores a entidades mitológicas, desde sua projeção vertical, até as raízes fincadas no solo, marcando uma simbólica e imaginária aliança entre “os céus e a mãe terra”…
Nas vésperas do solstício de inverno, os povos pagãos da região dos países bálticos cortavam pinheiros, traziam a seus lares, e os enfeitavam de forma muito semelhante ao que praticamos em nossos dias – mas sem os vaga-lumes de led, made in China… Essa tradição, muito cultuada pelos povos Germânicos, também incluía a colocação de presentes para as crianças sob o “Carvalho Sagrado de Odin”…
O Machado de São Bonifácio
No início do século VIII, o monge beneditino Bonifácio de Mogúncia tentou acabar com a tradição pagã na Turíngia, para onde fora como missionário… Com um machado, cortou um pinheiro sagrado no alto de um monte, adorado pelos locais… Como fracassou na erradicação do culto, decidiu sincretizar o formato triangular do pinheiro com a Santíssima Trindade, e suas folhas resistentes e perenes com eternidade de Jesus… Uau, santa imaginação!!! Mas, nascia aí a Árvore de Natal Cristã, e com direito ao “Pai, Filho e Espírito Santo”, pegando uma carona na tese Ariana, una, não-trinaria, defendida por Arius… e contestada às bofetadas pelo Bispo de Myra… ele sim, Nicola, franco defensor da Santíssima Trindade… Sendo essa mais uma pendenga religiosa tola que renderia muitos desafetos, além de mortos…
A primeira árvore de Natal Cristã documentada pela História foi decorada em Riga, na Letônia, em 1510… Acredita-se também que esta tradição também foi incentivada por Martinho Lutero, na Alemanha… Diz a lenda que, certa noite, enquanto caminhava pela floresta, Lutero ficou impressionado com a beleza dos pinheiros cobertos de neve… As estrelas do céu ajudaram-no a compor a imagem com os galhos das coníferas… Bela alusão poética, ao que poderíamos agregar que, como o rebelde Lutero era um tremendo beberrão, ele pode ter visto muito mais do que estrelas nessa noite fria de 1530…
Maçãs de Ouro e Nozes de Prata
Também existe uma antiga lenda, que remonta da Germânia do século VII; onde, numa fria na noite de natal, um monge missionário inglês teria talhado um tronco que fora utilizado anteriormente em festas pagãs, e para a oferenda de sacrifícios humanos… E, neste lugar, teria crescido então um tipo de árvore que mais tarde seria convertida em um símbolo do cristianismo… Provavelmente, uma versão apócrifa do gesto antipático de São Bonifácio…
Outra lenda europeia conta que durante uma fria noite de inverno um menino procurou refúgio na casa de um lenhador que vivia isolado com a sua esposa… Eles receberam o menino, oferecendo abrigo e comida… Durante a noite, o menino se converteu em um anjo vestido de ouro: era o menino Jesus – imaginem vocês! Para recompensar a bondade dos anciãos, ele tomou um ramo de pinho e lhes disse para semear, prometendo-lhes que a cada ano daria frutos… E assim foi: aquela árvore deu maçãs de ouro e nozes de prata… Mas não existem provas do feito…
Um Sentido Universal
Árvores representam simbolismos culturais diversos, desde milênios antes do mito crístico; os indo-europeus consideravam as árvores como expressão de fertilidade, os egípcios atribuíam à tamareira o significado e o dom vida, além da representação homóloga dos diversos estágios da vida humana… Uma verdadeira ÁRVORE DA VIDA…
Por outro lado, gregos e depois romanos teriam sido os primeiros a decorarem suas árvores para cada uma de suas muitas celebrações… Mais tarde, este hábito se espalharia até alcançar o norte da Europa… Por isso, as árvores escolhidas são pinheiros típicos de zonas de florestas temperadas europeias; que também são cobertas com grinaldas prateadas simulando a neve, também característica destas regiões no inverno…
Os Gregos usavam as árvores também como “intermediários” entre o céu e a terra, cultuando-as em reverência indireta aos deuses… Os Romanos costumavam enfeitar pinheiros com máscaras de Baco, o deus do vinho, para venerar o deus Saturno, também o deus da agricultura, da justiça e da força… A festividade recebia o nome de “Saturnália”, e deve ter inspirado Martinho da Vila ao nomear sua filha [sic]… e coincidia com o nosso Natal…
Já na China, o pinheiro ainda significa longevidade, enquanto no Japão, simboliza imortalidade… As primeiras árvores montadas no Brasil datam de 1800, e foram armadas e decoradas por imigrantes europeus… O costume de montar presépios veio de Portugal…
Reflexões…
O Natal é pois uma festa para onde convergem diferentes e variadas culturas; que, a despeito de suas origens históricas, lendas, e tradições, nos conduzem a uma experiência única: a sensação de unidade global, humana…
Estamos todos unidos no mesmo rito de reunir a família e os amigos, para DAR… Dar presentes, simbolizando afeto, dar aquele sorriso largo e o abraço amigo, dar de comer e beber… Beijos apaixonados, o som das taças em celebração, as vozes do presente e do passado… A experiência sublime, vivida por outros costumes, de outros povos, de outras eras, humanos como nós…
HUMANOS, TROPPO UMANOS…
Este é o meu sentido do natal, e qual é o seu?
Um Feliz Natal, repleto de saúde e ternura…
E… para lograr o que ainda nos faltar, lutaremos com disposição e generosidade, juntos, no ano que se inicia…
Carlos Leger Sherman Palmer Junior
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