Por Carlos Sherman
Adolf Hitler detém a primazia do registro histórico do termo “A Grande Mentira”, e atribuiu aos judeus o papel de “grandes mentirosos”, já que os culpava pela derrota da Alemanha na Primeira Guerra Mundial… Sendo essa a Grande Mentira sobre o tema. Assim o cabo genocida cuidou para que seis milhões deles, dois terços da população judia da Europa, fossem exterminados com sofrimento indizível. No entanto, de maneira trágica e irônica, foram os totalitarismos diversos – como o regime nazifascista de Hitler – que se locupletaram com o emprego da estratégia da mentira descarada e continuada; ao que o Ministro da Propaganda do “mito” nazista, Joseph Goebbels, acrescentaria: “Toda propaganda eficaz deve ser limitada a alguns poucos pontos e deve ser repetida em slogans até que o último membro do público compreenda” – como em um culto. Insistindo ainda que “uma mentira contada muitas vezes acaba se tornando verdade”… E foi o que se viu, e é o que se vê.
Todos os totalitarismos suprimem a liberdade pela mentira. Todos os regimes ditatoriais mentem para justificar o injustificável: a supressão dos direitos civis, individuais, e do supremo direito à vida. Somente por meio de grandes mentiras será possível vender a ideia de que uma espécie de líder indefectível tem uma revelação infalível, e só ele sabe como conduzir seu rebanho a uma espécie de terra prometida, e lutando contra as forças do mal… Ele, o antissistema, o revolucionário, o ungido, o escolhido na luta do bem contra o mal, pedirá então que você renuncie à sua liberdade, alegando que lutará por ela. E isso requer truques de ilusionismo retórico, do tipo messiânico-populista, e uma plateia medrosa, ávida e tola… Lembrando ainda que existem truques mais ou menos sofisticados, de Platão a Hegel, de Marx a Lênin, de Mao a Stalin, de Hitler a Fidel, de Lula a Bolsonaro, de Berlusconi a Putin, de Trump a Chávez… Mas a hermenêutica é sempre a mesma, incutir o medo para vender a salvação. E tanto as religiões quanto a Cosa Nostra entenderam o poder deste estratagema.
Nas palavras de Tertuliano de Cartago, doutor da igreja católica: Credo quia Absurdum! E notem que ele alega “crer porque é absurdo”, e não apesar de ser absurdo. Tertuliano, no início do século III da cristandade, alegava – em defesa da grande mentira – que ninguém inventaria algo tão absurdo. Ele estava completamente enganado, e a neurociência pavimentaria esta compreensão – que nunca foi corretamente entendida pela filosofia… analisando sombras na parede da História. Além disso, a neurociência também nos ajudaria a compreender as ditas e frágeis inclinações à direita ou à esquerda, ao liberalismo ou conservadorismo, e outras variantes do ideologismo bipolar.
Parafraseando Eduardo Galeano, o poder é como um violino, toma-se com a esquerda e toca-se com a direita. Toma-se o poder com um discurso antissistema, subversivo, para então conservá-lo com conchavos – e um pouco mais do mesmo. Enfim, apoderados e desapoderados, psicopatas, lutando pelo poder… para então conservá-lo a qualquer custo. E a Grande Mentira na qual grupos supostamente antagônicos afundam o nosso país, invoca a pérfida ideia de que Lula e Bolsonaro representam apostas antissistema; e ainda mais, que seriam apostas ideológicas radicalmente opostas. Isso não poderia ser mais mentiroso.
Primeiro, os dois políticos “eleitoreiros” emergem do cluster B do Manual de Transtornos Mentais, ou DSM-5, como autênticos psicopatas… e cujo “Transtorno de Personalidade Antissocial – Critérios para o Diagnóstico 301.7 (F60.2)” estabelece “Um padrão generalizado de desrespeito e violação dos direitos dos outros, […]”.
Lula e Bolsonaro estão de lados opostos? São antissistema? Vejamos, e.g., em relação à ditadura de Hugo Chávez, que destroçou a Venezuela… Quem disse que “A Revolução Bolivariana […] Chávez, é uma esperança para a América Latina e gostaria muito que essa filosofia chegasse ao Brasil. Acho ele ímpar. Pretendo ir a Venezuela e tentar conhecê-lo.”? Foi Jair Bolsonaro, em 1999. E quem disse que “Eu durmo tranquilo porque sei que Chávez está ali (na presidência), mas também, às vezes, perco o sono pensando que Chávez poderia perder as eleições de dezembro de 2012.”? Essa é mole, foi o Lula… E “Ele não é anticomunista e eu também não sou. Na verdade, não tem nada mais próximo do comunismo do que o meio militar.”? Foi Bolsonaro, e agregando que o venezuelano “lembrava o marechal Castelo Branco”, primeiro presidente do Brasil durante o regime militar. “Acho que ele (Chávez) vai fazer o que os militares fizeram no Brasil em 1964, com muito mais força. Só espero que a oposição não descambe para a guerrilha, como fez aqui”, afirmou. Seria uma “guerrilha” no estilo Bolsonaro, planejando explodir bombas em quartéis? Isso é de direita ou esquerda? Já, segundo Lula, “uma derrota de Chávez em 2012 seria igual ou pior que a queda do muro do Berlim.” – ressentindo o evento que marcou a derrocada do terrível regime comunista-colonialista soviético.
E quem disse que “Esse Congresso está mais do que podre. Estamos votando uma lei eleitoral que não muda nada. Não querem informatizar as apurações pelo TRE. Sabe o que vai acontecer? Os militares terão 30 mil votos e só serão computados 3.000.”? Foi o então deputado Bolsonaro, exigindo as urnas eletrônicas, durante um encontro no Clube Militar, em 21 de agosto de 1993. Portanto, e de fato, Bolsonaro não acredita em fraude, mas quer ver o circo pegar fogo… Repetindo a estratégia incendiária criada pelo arruaceiro criminoso Steve Bannon, perdoado na prisão por Trump… e para vergonha do país; e pelo ex-viciado em crack, e agora “the pillow guy” – um vendedor ilusionista de travesseiros -, Mike Lindell. Esta gang é complementada por Wizard e Luciano Hang… e salve-se quem puder.
Lula tinha o seu staff criminoso, o falecido Duda Mendonça, e o terrível José Dirceu – outro perigoso psicopata. E Lula articulou sua propaganda mentirosa e de perpetuação no poder com apoio de ditadores como Fidel e Chávez, e corruptos como Evo Morales et al., com amplo financiamento das empreiteiras… O cara “antissistema”! Dirceu é brother do Augusto Aras, o “PGR guy”, “pero no mucho”… O procurador de Bolsonaro, o procurador que não procura. E Bolsonaro escala André Mendonça para o STF, “terrivelmente evangélico” e bolsonárico, cria de Toffoli, ex-advogado do PT. Toffoli que, na companhia de Gilmar Mendes, estava na mira da Lava-Toga, que Bolsonaro e Lula não quiseram… Toffoli, o amigo de Bolsonaro na blindagem do peculato familiar rachando dinheiro público; Toffoli, que presidiu a soltura de Lula na blindagem do “negacionismo” da prisão em segunda instância.
E Toffoli – mais uma vez ele – foi o responsável pelo inquérito das Fake News, contra matéria da Crusoé que denunciava irregularidades e corrupção envolvendo os “magistrados”… com o apoio de Lula e BOLSONARO! Mas agora o feitiço volta-se contra o feiticeiro. E temos o processo das Fake News devassando a propaganda fascista do “mito”… O mito que ‘ a exemplo de Lula – processa jornalistas consagrados e veículos de imprensa sérios atentando claramente contra a liberdade de expressão. Isso, enquanto mentem e vilipendiam instituições, passeando livremente sobre o código penal.
Liberdade de expressão não inclui crimes por falsidade ideológica, peculato, tráfico de influência, ou pela propagação de informações falsas em frontal atentado contra a saúde pública e a vida. Mentir, por si só, não constitui crime. Mas crimes sempre são cometidos com base em mentiras. E então, sob o falso pretexto da “liberdade de expressão”, corremos o risco de tolerar a intolerância… o que é intolerável!
Carlos Sherman
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