Por Carlos Sherman
Um último e esclarecedor exemplo vem das impagáveis páginas escritas pela jornalista francesa Marcelle Padovani da revista Nouvel Observateur. Com base em depoimentos colhidos em processos criminais na Itália, ela nos conta que um soldado da Cosa Nostra – a máfia siciliana – procurou o Capo máfia para abrir o seu coração… pois estava perdidamente apaixonado por uma mulher adúltera. O fiel escudeiro precisava de orientação para saber como contornar uma proibição expressa no código moral mafioso; i.e., a proibição de manter relações sexuais com uma mulher casada.
O chefão não demorou muito para solucionar moralmente a questão. Bastava que o soldado matasse o esposo de sua amada, já que o código nada versava sobre a relação com viúvas. Esta é uma questão de ambiguidade moral, e não ética; já que existe consciência da trapaça para ajustar a moral com a respectiva e aparente disposição ética – como no caso de bíblico de David…
Já o Lula, por exemplo, pratica o mesmo tipo de moral ambígua de Pablo Escobar – o famigerado e finado chefão do tráfico colombiano; já que para ambos o crime é justificável sempre e quando estejam alinhados com suas ambições; sendo necessário reprimir aqueles que tentam coibir a criminalidade, como o juiz Sergio Moro. Em conversa gravada entre Lula e Dilma – na época ainda presidindo o Brasil, Lula desabafa:
“Nós temos uma Suprema Corte totalmente acovardada; nós temos um Tribunal Superior de Justiça totalmente acovardado. Um Parlamento totalmente acovardado; somente nos últimos tempos é que o PT e o PCdoB começaram a acordar e começaram a brigar. Sabe… nós temos um Presidente da Câmara “fodido”, um Presidente do Senado “fodido”, e não quantos parlamentares ameaçados. Sabe… e fica todo mundo no compasso de que vai acontecer um milagre, e que vai todo mundo se salvar. Eu, sinceramente, estou assustado é com a “República de Curitiba”.
E convoca a tropa de choque, em gravação com o “Senador da República” Lindbergh Farias:
“Tem que ficar em cima deles e cobrar. Eu estou com a seguinte tese: é guerra, meu filho! E quem tiver artilharia mais forte ganha.
Em outra gravação, ao mesmo Lindbergh, Lula ameaça o Procurador Geral da República:
“Terça-feira tem que “trucar” o Janot e “triturar”.
Terrível! Em nenhuma gravação Lula diz ser inocente, nem explica porque os respectivos órgãos públicos e agentes do Poder Judiciário não estariam cumprindo seu papel constitucional, e nem mesmo porque os ditos parlamentares estariam sendo “ameaçados”. Ele simplesmente quer o o tal “juiz de primeira instância do Paraná” seja detido… já que o caldo está entornando para os acusados de crimes como corrupção, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e cartel delinquencial.
Tudo isso, fantasia Lula, “para não deixar os trabalhadores desempregados”… assim como alucinava Escobar, que gostava de se gabar dos três milhões de empregos gerados pela sua indústria da droga em Medellín. Ele dizia ainda que se o estado combatesse o seu “empreendimento”, seria responsável pelo maior desemprego e recessão da história. Lula faz exatamente o mesmo, em tom professoral, ao declarar – em um comício fechado e infestado de líderes sindicais – que o combate ao crime pela Lava-Jato trás enormes prejuízos “sociais” e “econômicos” ao país, provocando o fechamento de empresas e o consequente aumento do desemprego, com a perda do poder aquisitivo médio. Segundo ele teria “ouvido falar”, a Lava-Jato já trouxe enormes prejuízos ao país, entre “duzentos a duzentos e cinquenta bilhões de reais”. Ou seja, para Lula, o crime compensa – e muito!
Para Lula, o conluio entre o abuso de poder político e os cartéis de empreiteiros não teve qualquer influência sobre o desastre em nossa economia, mas sim o combate aos crimes supra-citados, além de crimes de responsabilidade administrativa, prevaricação, perjúrio e tráfico de influência. Ele só esqueceu de dizer que a roubalheira massiva encheu os bolsos de diversas quadrilhas, em cifras que multiplicam algumas vezes a sua estimativa… em dólares – devidamente lavados e enxaguados. Também não explicou que o propinoduto sangrava o patrimônio nacional, destruindo empresas públicas e instituições como a Caixa Econômica, o BNDES e a Petrobras. Portanto, um crime de lesa-pátria.
A ambiguidade moral já ofende a muitos; mas quando vista sobre a ótica da ambiguidade ética, o dolo se torna mais nítido. Para os que cultivam a moral e a ética sem especiosas ambiguidades, como o secretário geral da ONU, Kofi Annan, a corrupção é crime gravíssimo, e induz a má distribuição de renda. Em seu discurso de abertura na Conferência da ONU sobre Crime Organizado Transnacional, ele disse que: as mais variadas máfias e carteis mundiais incrementavam em 30% ao ano o seu lucro líquido. Belo negócio [sic]!
Não são as empresas, mas sim o crime organizado multinacional, que operam a desigualdade no mundo. E os estados criminosos, disfarçados por regimes totalitários – como a Rússia e a China -, por teocracias – como a Índia e todos países muçulmanos -, ou mesmo por necrocracias – como a Coréia do Norte, ainda governada pelo falecido avô do presidente risonho -, são os mais nefastos na categoria lesa-mundo. Este fenômeno afeta principalmente a África, e suas frágeis democracias, além de países no Oriente Médio, Ásia e América Latina.
O Totò Riina, Capo di tutti capi da Cosa Nostra de, o chefe de todos os chefes da máfia siciliana, desde sua cela no Carcere Di Massima Sicurezza Opera di Milano, entende as ambiguidades morais e éticas de Lula; o mesmo pensaria Escobar desde sua campa lá no Parque Cementerio Jardines Montesacro Medellín, se já não estivesse atomizado e decomposto.
Riina, doente, ainda pediu para morrer com “dignidade”… Que dignidade? As viúvas dos agentes públicos assassinados por ele não conseguem entender este “código moral”, essa “dignidade”… da qual os seus finados maridos não puderam gozar. Escobar foi alvejado enquanto fugia como um rato… mas foi endeusado até o fim. Afinal, as ambiguidades éticas e morais não estão circunscritas aos colarinhos brancos; trata-se de um fenômeno evolucionário, estudado em nossos dias pela Neuropsicologia, pela Genética Comportamental, além de um novo ramo da Biologia, a Psicologia Social e Evolucionária.
Lula está preso em uma cela especial… mas deveria pagar por seus crimes como qualquer cidadão; e não com regalias de “ex-presidente”, já que nunca se comportou como tal. Lula liderou um Sindicato do Crime, e desde seu covio palaciano lideraria uma máfia capaz de dilapidar o patrimônio moral e econômico de toda uma nação; e isso certamente conta como agravante – e não o contrário.
Carlos Sherman
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