Por Carlos Sherman
Mesmo o mais estulto dos homens, por algum instinto da natureza, permanece convicto de que com mais observações o seu risco de fracassar será reduzido.
Jacques Bernoulli
Ars Conjectandi; 1713
A primeira responsabilidade de um líder é bem definir a realidade. A última é agradecer. Entre estes dois extremos, o líder deve atuar como um servidor e devedor. Isso resume o progresso na arte da liderança.
Max De Pree
Atribuído erroneamente a Jacqueline du Pré
Em nossos dias, é muito comum enviar uma mensagem por whatsapp e ficar tamborilando na mesa e esperando a resposta. “Será que ele recebeu?”, “Sim, ficou azulzinho?”, “Não quer responder?”, “O que está acontecendo?”, “Meu deus?”… e se passaram quase “dois minutos”! O nível de ansiedade e excitação é máximo, não é verdade? Ou enviamos um e-mail, e após algum tempo – antes de suspender o Windows no fim do dia – já estamos pensando nos termos do follow-up… But why? Embora em alguma medida a ansiedade faça inescapavelmente parte de nossa vida, e diante dos enigmas políticos, econômicos, e existenciais, não podemos adoecer em desespero. Esse é um dos maiores desafios da modernidade, em face dos inexoráveis limites de nossa capacidade neurofisiológica. Acumulamos muitas vitórias, mas como lidar com uma montoeira exponencial de regras deveres, responsabilidades, relações, e atividade, diante de uma crescente e vívida clareza em relação à finitude da vida? Enfim, como extrair sentido de tudo isso… se morremos no final?
Operamos em modo multitask, mas não operamos bem… E temos vivido em modo automático, “alive and kicking”, e emendando uma coisa na outra… furiosamente. Mas ainda assim, logramos inegáveis avanços… até aqui. Mas temos que tenhamos cruzo um limite, acima do qual não poderemos manter as convenções administrativas vigentes, sem pagar um preço muito alta, adoecendo, e vendo as organizações adoecerem.
Nós, humanos, somos retrospectivos e inferenciais, e diante de novos desafios costumamos apelar para velhas receitas “infalíveis” ou novos estratagemas “revolucionários”. E não é por acaso que cambaleamos entre os messianismos do tipo progressista ou do tipo conservador. E, enquanto vivemos em pânico com os olhos arregalados esperando a próxima crise, na verdade o nosso grande desafio parece ser bem outro: o tédio. É isso mesmo, como já não esgotamos nossas energias lutando em modo monotask por nossa próxima refeição, nos empanturramos de excitação… E se não estivermos conectados, então trataremos de nos conectar – sempre. Curiosamente, pacientes diagnosticados com transtorno do tipo borderline, na verdade, parecem estar “enlouquecedoramente entediados” (Mukherjee, 2016).
Uma curiosa conjunção de fatores modernos, relacionados à escala e à velocidade, nos tem induzido à declaração de que nos sentimos cada vez menos felizes e cada vez mais excitados (General Social Survey, de 1973 a 2018). Suspeito que a demografia tem forte participação neste viés; e suspeito ainda que este processo não possa ser revertido. Não obstante, precisamos estudar o fenômeno e publicar os resultados.
O avanço cultural desenha uma curva ascendente persistente em forma de serra; com subidas e descidas ocasionais, no intervalo de algumas gerações, e um histórico geométrico que ameaça um tiro exponencial. A adjetivação de avanço está alicerçada da diminuição da mortalidade infantil em quase 40 vezes, e da violência em mais de 100 vezes, enquanto passamos a viver 3 vezes mais (Pinker, 2011). Direitos humanos, civis, individuais, tribunais de guerra, estabilidade em fronteiras, avanço em democracias, combate à miséria, ecologia, ciência médica, tecnologia, energia sustentável, são conquistas modernas etc…
Enquanto escrevo essas linhas, percebo o fenômeno em minha vida, e sei que perceberão em vossas vidas. É assustador, mas é o que temos… Procurem apreciar o voo, enquanto nos adaptamos à vertigem. Deve piorar um pouco até que comece a melhorar.
Carlos Sherman
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