Por Carlos Sherman
Em 1993, e apesar dos pesares, Lula ainda não estava “ligadaço”; insistindo em sua sina, vivendo de baforada em baforada de caros charutos cubanos, e permitindo uma ligação direta com o “coach de ditadores latino-americanos”, Fidel. O sapo ainda assusta. E lembrem-se que o PT votou contra a Constituição de 1988, votou contra o Plano Real, votou contra a lei de responsabilidade fiscal… e agora é francamente favorável à impunidade, e contra a prisão em segunda instância – sendo parceiro do Bolsonaro nesta matéria. O PT está mais em cima do muro do que o PSDB… e sequer se posicionou na escolha indireta entre Tancredo e o Maluf. Ou seja, nas célebres palavras do historiador e cronista Eduardo Bueno: “o PT é uma sombra nefasta nesse país, e se tu não quiseres admitir o problema é teu”. E digo o mesmo para os militantes bolsonaristas.
Bom, mas o ambiente político ou do poder público é muito complexo, e precisaremos admitir que o PT também formou fileiras positivas, tendo participação e relevância em nossa história. Mas quando, onde? Chegaremos lá. Mas, por hora, nesta narrativa, vivemos a eleição 1994. E lá está ele, no “corner meio-esquerdo, meio-direito, meio-nada”, o potente FHC do Real; e o Lula parte para o confronto… e para levar uma surra inesquecível: o FHC conta 34.000.000 de votos, 54%, contra míseros 17.000.000 de votos de Lula, i.e., a metade ou 27% do total. Assim, Fernando Henrique Cardoso, com méritos, é eleito presidente do Brasil no primeiro turno.
Chegamos às eleições de 1998, o azarão Lula continua no páreo para levar mais uma coça. FHC conta 35.936.540 de votos, 53,6%, contra o obcecado perdedor, com 21.475.218, 31.71%. E mais uma saraivada de reclamações, quando o “meio-anfíbio, meio-molusco” alega que FHC usou a máquina do governo, que o voto deveria ser impresso, que as urnas eletrônicas foram fraudadas etc… Ou seja, tumultuem! Uma inspiração direta para Bannon, Trump, e Bolsonaro. Esses foram tempos de valorização do Real, paridade com o dólar, e o Guedes ficaria transtornado com a quantidade “domésticas viajando para Disney”.
E chegamos as eleições de 2002, com o sapo barbudo sendo repaginado por ninguém menos do que Duda Mendonça… o mago das campanhas de Paulo Maluf – o coletor de excrementos, ou votos completamente alienados. E lá está ele, Luiz Inácio Lula da Silva, em sua versão “Lulinha Paz e Amor”, sem o fedor e a fumaça dos charutos, terno em modelito Armani, cabelo cortado, como um bom menino, e barba bem aparada. E ele vence! Sendo este um marco histórico. Pois, eu votei nesta versão do Lula, e naturalmente estava enganado. Na ocasião, decidi dar uma chance para a retórica do “presidente oriundo das camadas populares”, que alegava lutar pela justiça, pela moralidade na política, e todas as outras mentiras que a história denunciaria e condenaria. Lula vence de lavada, mas no segundo turno, ao frágil Serra do PSDB, com 61,27% dos votos válidos.
E todo psicopata narcisista adora um discurso, e Lula sempre falou muito mal – competindo no quesito com a Dilma e Bolsonaro… E repetia incessantemente e equivocadamente que ninguém precisa de diploma, i.e., de educação formal, e alegando ainda que “não preciso ler”, “não gosto de ler”, assassinando a língua portuguesa, e carecendo também de conteúdo retórico, e desdenhando do conhecimento em favor da esperteza. E agora, ele então pode arrotar que: “Sempre me criticaram por não ter diploma. Pois o meu primeiro diploma é o diploma de presidente do Brasil.” Mas não parou por aí. Sua lista de honrarias, condecorações, é um absurdo vexaminoso; vexaminoso para países e instituições que concederam tais títulos a esse ignorante e torpe populista.
Lula, dizem, é quase “um gênio da política”. Dizem o mesmo de Bolsonaro. Mas duvido desta conclusão simplista. Já que o sucesso eleitoreiro não merece consideração de gênio… a não ser que estejamos fazendo menção à categoria “gênio do mal”. Mas o que é um gênio político senão um gênio em práticas escusas? Brizola sim foi um tremendo “engenheiro político”, e quero cunhar o termo. Ou melhor seria dizer: “engenheiro do mal”.
Mas o que realmente dignifica ser “político”? Ser político é ser um personagem público? O sinônimo é frequente, mas incorreto. Ser uma figura pública é outra coisa; e, por princípio, e segundo a constituição, a honestidade e a transparência ainda serão qualificações requeridas na administração pública. Portando, essa é a grande confusão. Você pode ser um agente público sem ser político. Aliás, todos os agentes públicos deveriam primar pelo bom cumprimento de suas funções, segundo sua consciência, e sem vieses políticos ou ideológicos.
Notem que quando alguém alega razões “políticas”, na verdade está tentando justificar a falta de transparência, coerência, e sinceridade. Ser político é uma espécie de zona franca para a verdade… ou a mentira – em plena era da transparência.
ARTIGOS RELACIONADOS